O pequeno Miguel Rodrigues, de apenas quatro meses, foi a primeira criança a ter detectada a síndrome da imunodeficiência combinada grave (SCID) no teste do pezinho e passar por transplante de medula óssea para tratamento no Distrito Federal. Para que o transplante fosse possível, no entanto, a Fundação Hemocentro de Brasília (FHB) precisou realizar um procedimento específico na medula coletada, a deseritrocitação.
A intervenção foi necessária pois Miguel e seu pai, Francisco Fagner de Sousa, o doador da medula óssea, embora tivessem compatibilidade HLA, ou seja, de medula óssea, não possuíam o mesmo tipo sanguíneo. Enquanto o pai é AB positivo, o filho é do grupo A positivo.
De acordo com a médica Margarida Maria Carneiro, responsável técnica do Centro de Processamento Celular do Hemocentro de Brasília, a deseritrocitação é fundamental para garantir a segurança do transplante em situações como essa. “Sem esse procedimento, o organismo da criança destruiria as hemácias da medula do pai, o que provocaria uma reação transfusional grave e hemólise”, explica.
A deseritrocitação consiste em reduzir o número de células eritrocitárias antes do transplante a partir da centrifugação da bolsa contendo a medula óssea após a adição de hidroxietilamido. A técnica é realizada no Hemocentro de Brasília desde 2013, mas somente é indicada em casos de transplantes alogênicos, ou seja, entre duas pessoas diferentes, com incompatibilidade sanguínea ABO. “Ele é solicitado apenas nessas situações de incompatibilidade sanguínea. Nesses casos, ele é importantíssimo e fundamental para garantir o sucesso do transplante”, reforça a médica.
Miguel foi internado no em 4 de novembro no Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB). A mãe, Nara Rodrigues, o pai e o irmão mais velho Pedro, de 8 anos, passaram por testes de compatibilidade para o transplante. Os três registraram uma compatibilidade de 50%. “O hospital também procurou no Redome por um doador com 100% de compatibilidade, mas não achamos. Então foi decidido que seria o pai, pois eu ainda estava no período pós-parto e o irmão era muito novo”, conta Nara.
O transplante foi realizado no dia 21 de novembro e a criança recebeu alta hospitalar no último dia 14 de dezembro. “No dia 13, o hospital nos avisou que a medula pegou. Foi uma festa, com balão, plaquinha e todos muito felizes”, lembra a mãe.
Após o sucesso do transplante do filho, Nara reforça a importância da doação voluntária de medula óssea. “É uma coisa tão distante, que a gente só percebe a importância quando acontece na família da gente. Quem puder doar, faça, porque salva uma vida. E poder salvar uma vida é uma benção de Deus”.
A síndrome da imunodeficiência combinada grave (SCID) é uma doença genética em que há alteração dos linfócitos (grupo de células que faz parte do sistema de defesa do organismo), de modo que a criança não produz anticorpos e fica sem imunidade.
A SCID foi incluída na triagem neonatal este ano, quando o teste do pezinho passou por ampliação – além da Scid, mais de 50 outras doenças podem ser detectadas pelo teste. Miguel foi o primeiro bebê com a síndrome a receber o diagnóstico pela triagem.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o doador ideal (irmão compatível) só é encontrado em 25% das famílias brasileiras. Quando não há alguém na família, é preciso identificar um doador alternativo a partir dos registros voluntários. Nesse caso, a chance de o paciente encontrar um doador compatível é de uma em cada 100 mil pessoas, em média.
O cadastro para se tornar um doador voluntário de medula óssea é realizado no Hemocentro de Brasília. Para se cadastrar como doador de medula óssea, o voluntário deve ter entre 18 e 35 anos, 8 meses e 29 dias de idade, estar em bom estado de saúde e não ter doenças infecciosas ou incapacitantes.
O atendimento para cadastro como doador voluntário de medula óssea é realizado mediante agendamento prévio pelo site Agenda DF. O candidato deve comparecer ao Hemocentro portando documento de identidade oficial com foto. Será retirada uma amostra de sangue para fazer o exame de histocompatibilidade (HLA), que identifica as características genéticas do doador. Essas informações e os dados cadastrais do doador são enviados para o Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome).
FHB
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